Frederick Moonfall
- Gustavo (Bardoca)
- 1 de fev. de 2016
- 7 min de leitura
No ano de 1865 na grande Londres, existia um casal apaixonado: Sandra e Eduard. Cada um deles era herdeiro de grandes propriedades e fortunas por parte de suas respectivas famílias, e por serem pessoas de bom coração eles procuravam fazer trabalhos voluntários e doações em dinheiro para instituições carentes. Passavam boa parte do tempo livre juntos, e às vezes, com o melhor amigo do casal: Victor sempre trajado de seu sobretudo e cartola. Victor era um homem de negócios e vivia viajando, por isso nunca conseguiu ter um grande romance como o deles, e sentia um pouco de inveja por isso, mas nada que pudesse atrapalhar a amizade. Sempre que voltava de uma de suas viagens ele trazia muitos presentes para o casal amigo.

O tempo passou e Sandra e Eduard se casaram, unindo, então, a fortuna dos dois. Com todo esse dinheiro eles passaram a morar em um casarão de 3 andares com uma grande área para um jardim na frente e atrás da residência. Cerca de 5 empregados moravam juntos no casarão para melhor servir seus patrões. Logo depois do casamento, Victor ficou cada vez menos presente na vida do casal amigo.Suas visitas ficaram cada vez mais raras e quando aparecia aparentava olheiras profundas de quem estava dormindo mal e parecia sempre com pressa. Foi assim durante 5 anos ate ele sumir de vez. Foi uma grande preocupação, pois eles não receberam nem um telegrama sequer de algum ponto turístico que Victor costumava mandar de suas viagens. Contudo, esse momento não era de preocupações, era de alegria: Sandra estava grávida.

Eduard ficou tão feliz que fez uma festa para comemorar a gravidez de sua esposa aonde todos os conhecidos foram convidados. Ele ate contratou outras pessoas para que os empregados da casa pudessem participar da comemoração. Foi uma noite inesquecível: música, bebida e comida, vozes em todos os cantos do casarão. A alegria fluía por todo lugar. Brindes e mais brindes foram feitos em homenagens ao bondoso casal e a provável bondosa criança que nasceria. Eduard estava bêbado, mas não por causa do álcool, mas sim pela felicidade. Ele nunca se sentiu tão cheio de sentimentos bons como aquele dia. Porem, depois de um porre... vem a ressaca... No dia seguinte Eduard tomava seu café olhando para o jardim pela janela do quarto. Sua mente estava vazia assim como o seu interior... ele se perguntava o por que de tamanho sentimento de solidão. Voltando para a cozinha para pegar algo a mais para colocar no estomago ele começa a sentir um incômodo em seus ouvidos. Um incômodo que o fazia andar mais divagar mesmo sem diminuir o ritmo do seu caminhar. Eram seus próprios passos fazendo eco pelo corredor... VAZIO... Foi então que Eduard se deu conta de como a casa era grande e quanto ela parecia fria e sem vida comparada com a movimentação de pessoas do outro dia. E se perguntou se a criança que viria seria feliz numa casa tão grande e vazia, vivendo somente com os pais e os empregados. Então ele teve uma grande idéia: Fazer do casarão um orfanato, onde eles estariam ajudando varias crianças sem lar e dariam a seu filho vários amigos com quem brincar! Eduard acordou logo Sandra para lhe contar sua grande idéia que foi aceita com grande alegria e entusiasmo por ela. O casal colocou o plano em pratica no mesmo dia.
Sendo assim, o orfanato “Kid Kiss” (Beijo de criança) foi fundado.

O som de conversas, choros, risadas, gritos e brinquedos encheram o casarão do jeito que Eduard queria. O casal foi apelidado de anjos dos órfãos
pelos morados da redondeza. Nove meses depois Sandra deu a luz um garoto, que recebeu o nome Frederick. O casal não tinha mais o que querer para ser completamente feliz. Frederick cresceu junto de varias crianças do orfanato. Algumas eram adotadas e iam embora. O que deixava o garoto triste as vezes, mas logo outra criança entrava no lugar e tudo ficava bem.
Frederick Era uma criança normal e muito saudável, e como toda criança, costumava fazer algumas travessuras e pirraças, mas era logo repreendido por sua mãe. Nessas ocasiões ela o chamava de Derick. Ser chamado assim significava que ele estava em encrenca e logo se comportava. Preferia ser chamado de Fred e não Derick. Como de costume, em todos os aniversários de Frederick, seus pais faziam uma surpresa para ele no café da manha. As festas eram feitas sempre no salão do refeitório, mas nunca começavam lá. No seu aniversario de dez anos, Frederick se levantou e, ainda de pijamas, saiu correndo pelos corredores do casarão. Estranhamente, ele não ouviu nenhum barulho que as outras crianças já deveriam estar fazendo a essa hora. Nenhuma conversa, choro, risada ou grito... Tudo estava silencioso... Mas ele não ligou para isso pois achou que fazia parte da sua surpresa. Então, correu direto para o refeitório que também estava vazio. Meio perdido e sem saber para onde ir ou o que fazer ele sentiu medo. O silencio parecia poder ser tocado. Ate então um barulho vindo da cozinha no final do refeitório o chama a atenção. Aliviado, foi correndo para lá com a certeza de que todos estariam esperando ele aparecer para gritar “Surpresa!”. Ao empurrar a porta dupla da cozinha com um “Há!” ele se depara com seus pais caídos em frente da bancada aonde os alimentos são preparados. Eles estavam com feridas na cabeça e sangrando. O garoto assustado se aproxima de seus pais em passos pequenos e trêmulos, desejando ser realmente uma brincadeira, e se fosse, essa seria a brincadeira mais sem graça de todos os seus aniversários. Ate que alguma coisa o agarra por trás e uma dor rápida no pescoço seguindo de uma sensação e êxtase consome o garoto indefeso. Ao cair no chão sem forças e com a visão embaçada, ele vê um vulto usando um grande sobretudo e uma cartola. A criatura retira um objeto fino do bolso, o desliza em um de seus próprios dedos e olha em sua direção. Frederick tenta respirar mas não encontra forças para isso. Ele sente-se como se estivesse prestes a adormecer, mas o medo ainda o deixava consciente tempo o suficiente para ver aquilo até sucumbir ao cansaço. Seus olhos se fecham lentamente com um grande zumbido nos ouvidos. Ele não via e não ouvia mais nada, somente sentia. Sentia a agonia do frio cobrindo seu corpo ate uma sensação de molhado cai sobre sues lábios e toca sua língua. O gosto era o mesmo que ele sentia ao ficar com um talher muito tempo na boca depois de comer... Ferroso. Então o pobre garoto apaga.

Ele acorda no mesmo lugar. Já era noite. Ele apóia suas mãos no chão na tentativa de erguer o corpo tenso. Mas algo esta errado. Ele se sente estranho e confuso. Enquanto tentava se lembrar do que aconteceu ele sente algo dentro de si crescendo. Era como se o puxasse para dentro de sua própria barriga, e doía muito. Assustado, ele coloca as mãos sobre a barriga e se deita de bruços. O menino não sabia o que fazer ate então sentir um cheiro delicioso, o cheiro de algo que adoraria engolir, um cheiro tão doce quanto o mel. Olhando em volta ele olha para os seus pais que ainda estavam caídos em sua frente. O sangue seco escorrido hipnotizava. E então, o vermelho invadiu sua visão, e seu corpo todo começou a tremer. Com um grito ele se pôs de pé. Ofegando com o esforço e a sensação de ansiedade dentro dele, Frederick grita novamente expondo dois
caninos grandes e brancos. De olhos arregalados no escuro ele suplicava pra si mesmo:“Não, não, não, não, não,na...” Ele não se segurou mais. Avançou para cima de seus pais, e com uma força sobre humana, rasgou a carne de seus membros e engoliu todo o sangue que podia, pedaço por pedaço. Sugava tudo que podia de uma parte arrancada e depois arremessava o que sobrou para algum lugar na cozinha. Mesmo depois de desmembrar e se banquetear com os próprios pais ele não estava satisfeito. Algo estava errado. Ele queria mais. Muito mais. So que... onde? “papai sempre disse que nunca estarei sozinho enquanto houve outras crianças aqui...outras crianças...” Então ele vai atrás de todas as crianças que estavam estranhamente adormecidas em seus respectivos quartos.

O som de carne sendo rasgada, vísceras caindo ao chão, goladas intermináveis de sangue e risadas de uma única criança ecoavam no casarão. Era como uma sinfonia do horror. No final de tudo isso, quando já não restava mais ninguém a ser devorado, o pequeno recém criado amaldiçoado acorda de seu transe acabando de espremer as ultimas gotas de um fígado. Quando vê o órgão em sua mão ele o joga para longe com um grito apavorado. Ele procura saber aonde esta olhando em volta. E se depara com a cabeça de criança usando uma coroa bizarra feita de mãos entrelaçadas por fios vermelhos que pareciam sair das próprias mãos. A visão da cabeça da criança era horripilante, mas por algum motivo Frederick achou a cena engraçada e soltou uma risadinha, e no mesmo instante se assusta consigo mesmo por ter gostado daquela “obra de arte”. o menino se levanta e sai do quarto, indo em direção ao salão da entrada principal. Olhando para todos os lados admirando e repugnando ao mesmo tempo tudo o que via: candelabros com dedos ao invés de velas, lustres enfeitados com intestinos, porta chapéus com braços segurando cabeças no lugar de cabides e até o que ele julgou ser um carrinho feito com um coração, duas costelas como eixo e quatro olhos como rodas. Tudo aquilo era adorável e belo, horrendo e inaceitável. Amava tudo, e odiava a si mesmo. Repetia para si mesmo o tempo todo: “não quero ser Derick, quero ser o Fred! Não quero ser Derick, quero ser o Fred!” Descendo as escadas do salão de entrada, podia-se ouvir o barulho dos seus pés pisando em algo molhado e de cheiro delicioso que escorria pelos degraus. O tapete da entrada antigamente verde era agora encharcado de vermelho... Gotas do mesmo fluido podiam ser ouvidas caindo ao chão por todo recinto. Fred/Derick chega ao meio do salão e abraça os próprios joelhos, desejando que aquilo fosse somente um sonho muito ruim. Ele queria chorar, mas as lagrimas não SLXLMsaiam, o deixando mais apavorado ainda. Então ele ouve o barulho da porta se abrindo em sua frente, e dela, um homem vestido com um sobretudo preto e cartola entra e caminha lentamente em sua direção ate ficar de frente com o garoto agachado. Fred/Derick olha para aquele homem e sente que poderia confiar nele... Sem saber por que, ele abraça essa figura em sua frente com ternura e recebe em resposta, um afago nos cabelos empapados de sangue.
“Não se preocupe. Eu vou cuidar de você.”
“Obrigado... Tio Victor...”

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